quarta-feira, 20 de junho de 2012

Correlação entre as teorias Topográfica, Estrutural e dos Instintos: pressupostos psicanalíticos para uma nova abordagem da mente.





Resumo: O presente artigo aborda os conhecimentos psicanalíticos estruturados por Sigmund Freud para compreensão do aparelho psíquico. De modo relacional, as teorias Topográfica, Estrutural e dos Instintos convergem para confirmar o valor científico da Psicanálise e é necessário o destaque desta interface.
Palavras-chave: Teoria Topográfica, Teoria Estrutural e Teoria dos Instintos.
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Abstract: This article discusses the psychoanalytic knowledge structured by Sigmund Freud to understand the psychic apparatus. So relational theories Topographic, Structural and instincts converge to confirm the scientific value of psychoanalysis and it is necessary to highlight this interface.

Keywords: Topographic Theory, Structural Theory and the Theory of Instincts.


INTRODUÇÂO

Sigmund Freud deu uma importante contribuição sobre a compreensão e o conhecimento do homem e do humano existentes em todo ser racional que possui uma cultura e fora educado - possui cultura, pois é um ser que tem raízes e identidade, e foi educado porque a educação é o processo de humanização.


Quando ele descobre o inconsciente humano e um funcionamento da mente humana, ele altera o curso de algumas ciências humanas, tornando o inconsciente a pedra fundamental para análise do ser humano. Com este entendimento, não é mais a razão quem governa a ação humana e haverá uma continuidade na vida mental. Os processos mentais não ocorrem ao acaso. Há uma causa para cada memória revivida, cada pensamento, sentimento ou ação. E afinal, depois de Freud o que seria a razão? Tão centrada nos discursos da Psicologia e Filosofia e de tantos outros conhecimentos, a razão não é mais a senhora que impulsiona o homem; o homem é agora, mais que nunca, o lobo do próprio homem, como afirmou Tomas Hobbes. E como dominar essa besta, essa fera que aterroriza o homem? O único caminho é entender a si mesmo, é debruçar-se sobre o desconhecido para que se faça conhecido, é um desvelamento do real.  Freud pesquisa sobre o funcionamento da mente humana e descobre esta afronta para a razão, que é o inconsciente. Não só o inconsciente, mas toda sua estrutura e as energias que o anima. Na vida psíquica haveremos de tomar o consciente para entendermos o inconsciente. Ele é uma forma de percepção de caráter imediato e certo. Imediato porque não necessita da mediação de algo para se tornar conhecido, como a ajuda da linguagem, por exemplo, para se tornar entendível, e certo porque configura a realidade.Em contrapartida, o inconsciente é um estado reprimido de conteúdos psíquicos, um esvaziamento do conteúdos dolorosos, e também fonte de desejos e energias como as ideias, por exemplo. Se uma ideia agora é consciente, e em dado momento ‘torna-se’ inconsciente, é louvável entender que assim acontece porque uma força repressora o fez. Tal força coloca a ideia consciente em um estado de ocultamento. O inconsciente tem, então, um caráter econômico, quando utiliza sua energia para tanto, e qualitativo quando sobressai sobre o consciente, determinando ora isto, ora aquilo. A força realizada para manter a ideia inconsciente é chamada de repressão. Freud foi além de apenas descobrir o inconsciente; ele descreve um plano espacial e gráfico da mente. Para isso ele elaborou um modelo de aparelho psíquico, que é representado em Consciente (Cs), Pré-consciente (Pcs) e Inconsciente (Ics). Assim, o Cs inclui tudo que está ciente em um dado momento. Toda compreensão se passa nesta estrutura, e é no Cs que as forças e todo mecanismo psíquicos se tornarão ressignificados, contudo terão que ter passado pelo Cs. É ainda no Cs que todo o conhecimento está ligado, mesmo o Ics. Em um sentido espacial e anatômico, Sigmund Freud colocou o Cs como o primeiro a ser atingido pelo mundo externo. Todas as informações que vêm de fora do homem, de início já podem ser consideradas Cs. O Pcs é responsável por tudo que é latente. De modo descritivo, o Pcs é inconsciente, mas por pouco tempo. Sem desperdício econômico, todo material do Pcs se coloca à disposição do Cs, basta um estado de concentração. Para qualquer conteúdo reprimido e recalcado tornar-se Cs, terá que ser mediado pelo Pcs. Uma das diferenças entre este e o Ics é a mediação verbal. O material Ics quando vinculado às representações verbais que lhe são correspondentes, tornar-se-ão parte do Pcs. As representações verbais são resíduos das lembranças vividas pelo homem. E antes de serem reprimidas, as lembranças, foram Cs. Em última instância o Ics, com os elementos instintivos ou pulsões. É no Ics que todo material reprimido e recalcado será destinado, assim o que é reprimido é Ics, mas nem todo Ics é reprimido. Uma característica do Ics é sua não-latência. Nessa disposição de Cs, Pcs e Ics temos a primeira Tópica de Freud ou teoria Topográfica. Foi um salto gigantesco para a Psicanálise porque traz elementos próprios, além de ser irrefutáveis até hoje, haja vista sua utilidade no setting analítico. É com essa teoria que a compreensão da mente tem outro significado, mas apesar de sua importância, surge outra problemática para Freud: depois de analisar a mente haveria de se questionar sobre como ocorria a animação e movimento da mente. Como seria possível um conteúdo inconsciente tornar-se consciente? Qual a importância deste ato? A mente se resume na teoria Topográfica ou haveria outros mecanismos e funcionamento a serem descobertos? Freud então vai mostrar que para um conteúdo mover-se de uma estrutura para outra seria necessário uma força. Mas não uma força qualquer, e sim uma que tivesse uma essência e característica própria, capaz de ser organizada e conferir mobilidade aos conteúdos. A teoria Topográfica situa as instâncias da mente, e apesar de dinâmica não revela ser móbil. Ela é motivada, então, por forças que se aperfeiçoa conforme o desenvolvimento humano. Quando criança, o ser não compreende o mundo e a realidade a sua volta. A criança necessita satisfazer suas necessidade (alimentação, sono, defecação, micção) e nada o impede de fazê-los. Ela só quer satisfazer-se, saciar-se. Tudo em sua vida é instinto. Se assim não fosse, não sobreviveria a um mundo tão complexo e exigente. Esses instintos chamados por Freud de pulsões são pressões que dirigem o ser para determinados fins, são forças propulsoras que incitam as pessoas às ações. Com a necessidade, o ser busca uma finalidade para satisfazer a mesma; para satisfazer é necessária certa energia para movê-lo em busca de tal. A satisfação do ser ao percorrer esses passos, contempla o objeto de sua satisfação. Esta é a estrutura dos instintos que mesmo anterior ao nascimento, os indivíduos são dotados. Esses instintos são expressos, ou seja, realizam sua tarefa por uma forma de energia chamada de libido. A libido foi classificada por Freud em pulsão de vida – Eros, que são os instintos que servem à sobrevivência humana, como a fome, a sede, o sexo, e pulsão de morte – Thânatos, que mostra o caráter finito do homem, já que o seu destino final é a morte. O ato de comer, por exemplo, é uma pulsão de morte, apesar de a pulsão de vida estar presente (alimentar-se para manter a vida), é necessário que se destrua o alimento antes de ingeri-lo, e fica notável o elemento da agressividade. Nessa convivência entre pulsão de vida e morte, os instintos são forças importantes que mobilizarão o homem para uma determinada ação. Como fora exposto sobre a criança, ela é dominada por seus desejos e instintos. E não sabe que é dominada por eles, o que lhe basta é saciar-lhes os desejos. As pulsões são então, uma energia que movimentará a ação humana para satisfazer aos desejos. Se, contudo, os desejos não puderem ser compreendidos e/ou realizados, sua força psíquica será enviada para uma parte do aparelho psíquico capaz de acomodá-la. O Ics é este ‘espaço’ que colherá o desejo reprimido por uma força. Mas que força é este que reprime? E por qual razão o Ics acolhe tal desejo?  Freud se via em uma encruzilhada de perguntas não respondidas pela sua teoria Topográfica. Havia a necessidade de repensar a mente, pois ela havia, em sua concepção, tornando-se um sistema passivo, imóvel. Então, Freud pesquisa e ver que existe algo que irá conferir dinâmica e interação à mente. Ele mostra uma concepção estruturalista que trouxe o id, o ego e o superego.  O deslocamento de uma energia mental é realizado pela razão de existir forças e instâncias próprias no aparelho psíquico que servem como órgãos deste. Por exemplo, nossa fonte de prazer e desejos é o id. Nele se concentra todos os instintos, paixões e desejos. O que o ser humano tem de mais primitivo e animalesco é reportado ao id. O conteúdo do id é inconsciente, hereditário e inato, mas também recalcado e adquirido. Economicamente o id é a fonte das energias psíquicas. O ego está ligado ao id. Mas como em repouso, o ego mostra-se em uma modificação do id. É ele parte do id que foi modificada pelo mundo exterior, ou seja, o princípio do prazer do id é substituído pelo princípio da realidade no ego, representando a razão, esta que oscila entre o Pcs e Cs. Para Freud, a importância funcional do ego é o controle sobre as abordagens à motilidade. Economicamente, o ego é o fator de ligação dos processos psíquicos. Embora esteja sempre oscilando entre o material psíquico do id e do superego, o ego tem uma autonomia relativa. Onde quer que vá, estamos levando conosco nossa bagagem de valores morais, éticos, religiosos e outros. Temos então, nosso superego ou ideal do ego, como sugere Freud. Ele quem impera, no sentindo de exercer domínio e conhecimento sobre o certo, o errado, o bem e o mau. É o censor do ego. Herdamos e criamos o formamos o superego com a dissolução do Complexo de Édipo. Como o superego está vinculado à moral, aos costumes, tradições, então sua formação será diferente entre as gerações.
            As teorias psicanalíticas revelam uma interação dinâmica entre si. Se por um momento, Freud consegue ver a incompletude de uma, por outro, ele pesquisa para complemento desta. Essa interação inaugura um novo modo de pensar a psique humana que desestrutura o corpo teórico de outras ciências. Mais que isso, as teorias confirmam aos poucos o grande legado que Sigmund Freud deixa ao mundo: a Psicanálise.


REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund. O ego e o ID e outros trabalhos (1923 – 1925). Volume XIX. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 2006. 
Diêgo Santana

2 comentários:

  1. Muito bom o texto, parabéns.
    Para os iniciantes como eu, uma abordagem de fácil compreensão.
    Parabéns

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  2. Muitoooo bom! fico feliz de ler e entender. obg

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