quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sexualidade em Freud: nova compreensão do homem





Em De Anima, Aristóteles mostra claramente o que é a alma e de modo primário demonstra sua funcionalidade. Segundo o filósofo, as plantas, os animais e os homens possuem alma. Ela seria o princípio ativo do movimento e da essência, em sua razão. A essência da alma na planta é conferir-lhes o movimento para a nutrição; a alma animal denota em sua essência o movimento para a nutrição e reprodução, enquanto a alma humana carrega em sua essência o movimento para a nutrição, reprodução e a razão com todas as suas faculdades.
Em seu artigo Três Ensaios para a Teoria da Sexualidade, Freud aprimora o pensamento, até certo ponto, do filósofo Aristóteles, ao equiparar a funcionalidade de energias que envolvem a persona humana com a de animais. Um ponto relevante a ser discutido é sobre as necessidades sexuais encontradas em homens e animais. Destas necessidades, o mestre de Viena expõe o equívoco das ciências vigentes que negaram a existência das necessidades sexuais na infância. Esta energia foi chamada de pulsão sexual, libido. Ela projeta no homem características importantes que influenciam o desenvolvimento da personalidade. Freud desenvolve, então, a teoria da sexualidade para compreender cientificamente o processo psíquico da formação contínua da personalidade, e ele se vale da pulsão sexual existente no homem para provocar a ciência a descobrir outras verdades.
Refletindo sobre a homossexualidade, inversão.
Compreendido o conceito de pulsão sexual, que é a energia voltada para as necessidades sexuais, faz-se necessário entender como ele flui, age. O objeto sexual será considerado o outro de onde provém a atração sexual, enquanto o alvo sexual é a ação que é impelida pela libido.
Na obra O Banquete, de Platão, temos a condição aceita e mítica do que seja o amor: a união com sua outra metade. De algum modo, homem e mulher se completam. É por meio do amor e do sexo que existe a perfeição do encontro entre um e outro. Grande espanto é quando um homem deseja unir-se a outro, ou uma mulher deseja unir-se a outra. Tais pessoas eram conhecidas como ‘invertidas’. 
No processo de inversão, as pessoas podem se comportam de maneiras diferentes, podendo ser:
Invertidas absolutas: quando o objeto sexual é exclusivamente do mesmo sexo;
Invertidas anfígenas: quando o objeto sexual pode ser do outro sexo;
Invertidas ocasionais: aquelas que por inacessibilidade e/ou imitação do objeto sexual diferente do mesmo sexo, pode chegar ao prazer no ato sexual com pessoa do mesmo sexo.
            A aceitação da inversão por parte do próprio invertido pode ser algo natural ou não. Freud diz que os casos extremos de inversão podem ser considerados com existência prematura e que a pessoa sente-se com consonância com sua particularidade. Ainda, da origem, pode ser dito que equivocadamente dizia-se que a inversão advinha da degeneração nervosa, mas há claras evidências que negam o fato. Primeiramente, a degeneração foi erroneamente aplicada para casos em que não se tinham conhecimento adequado do termo. Ademais, encontra-se inversão em pessoas que não tem degeneração nervosa. A inversão pode ser encontrada em pessoas de elevado grau e notoriedade intelectual e ética. É preciso considerar ainda que a inversão foi encontrada em civilizações antigas, tendo seu papel de extrema importância.
            Pensavam, equivocadamente sobre o caráter inato ou adquirido da inversão. Tais ideias mostram-se frágeis para explicar a realidade, dada à observação de casos em que os invertidos absolutos não são totalidades.  Como o caráter inato não abarca a totalidade surge a ideia de adquirir a inversão. De imediato, a ideia cai por terra, pois pessoas podem receber estímulos externos como a sedução, a masturbação mútua e mesmo assim não se tornarem invertidas.
            Já que o caráter inato ou adquirido não pode explicar com eficácia e realidade a origem da inversão, outro recurso pode ser lançado para melhor compreensão. Existem pessoas que combinam caracteres sexuais masculino e feminino ao mesmo tempo, os hermafroditas.  Em casos raros coexistem os dois caracteres desenvolvidos plenamente. A maior parte dos hermafroditas vai atrofiando um ou outro órgão. Levando para o entendimento psíquico e mental, fica mais fácil compreender a etiologia da inversão. O homem é bissexual, mas no decorrer de seu desenvolvimento vai optando, talvez, para a monossexualidade. Deste modo, ele é um ser de possibilidades.
            A bissexualidade também, não é totalmente uma etiologia satisfatória para explicar a gênese da inversão, contudo, ela está atrelada a tal processo.  
            A teoria do hermafroditismo psíquico pressupõe que o objeto sexual do invertido seja do sexo oposto do normal. E algo há ser refletido é que no hermafroditismo psíquico o homem sente atração por outro, desde o seu objeto sexual reunisse características do sexo feminino, enquanto que a mulher invertida ativa espera feminilidade de seu objeto sexual.
            Havia um entendimento universal da dependência e continuação entre a pulsão sexual e o objeto sexual. Freud mostra a partir de seus estudos que essa dependência e continuação são quase inexistentes, podendo até a pulsão sexual e a libido serem independentes.
Da pedofilia e zoofilia
            Freud ensina que a pulsão sexual necessita ser saciada. Quando esta se movimenta em busca de seu objeto sexual, ela precisa ser satisfeita e seu alvo sexual quase nunca, exceto em casos extremos, pode sofrer alterações. Para o homem que se satisfaz com uma criança ou animais, pode ser afirmado que ele está substituindo seu objeto sexual por inadequação do seu original. Poder-se-ia afirmar também, que tais desvios e pulsão sexual não pertenceriam à loucura, pois não são perceptíveis em pessoas com transtornos ou doenças mentais. Das pessoas que abusam de crianças, por exemplo, fazem parte aquelas que são mais próximas delas.
            Há de se pensar ainda, que pessoas com alguma anormalidade social e/ou ética, também assim se manifestará em sua vida sexual. Contudo, é notório que muitos que mantém uma vida sexual anormal encontram-se dentre as numerosas pessoas que demonstram uma normalidade social e ética.
            Desvios do alvo sexual:
transgressões anatômicas e fixações de alvo sexuais provisórios

            Alvo sexual normal é considerado a genitália masculina e feminina durante o coito. Elas, a genitálias, unem-se para satisfazer a pulsão sexual e saciar a fome que dela brota. Contudo, mesmo dentro do alvo sexual normal pode-se constatar a presença de aberrações chamadas de perversões. Elas podem ser transgressões anatômicas, quando as partes do corpo destinadas à união sexual sejam outras que não as genitálias masculina e feminina, e demoras ou fixações em regiões que servem apenas para estimular o prazer antes de chegar ao contato final das genitálias.
            A libido do homem no curso do alvo sexual depara-se com a supervalorização do seu objeto sexual. Antes do ato sexual, que irá saciar a ‘fome’ da energia sexual, os desejos do homem voltam-se para o corpo do seu objeto sexual, espalhando-se por completo. Em raros casos, essa supervalorização concentra-se primariamente na genitália. O amor então passa a ser fonte de verdade e credulidade no amado e no amante.
            Quanto à boca e sua forma de alvo sexual, a normalidade reside quando esta se encontra com outra, e a anormalidade ou perversão será quando ela se uniu a genitália do outro. Algumas pessoas irá entender que esta perversão não pode ser realizada pelo asco que dela recorre. Tal asco decorre de mera convenção social, e ele impele a supervalorização do objeto sexual. O asco contém em si a restrição ao alvo sexual. Pode-se constatar que os histéricos, especialmente as mulheres, demonstram asco à genitália de seu objeto sexual.
            Em se tratando do orifício anal, a perversão será quando a repugnância estiver presente no alvo sexual. É de se entender que o ato sexual anal não é restrito apenas aos invertidos, nem que ele seja sensível apenas aos mesmos.
            O alvo sexual nada mais quer que apoderar-se do seu objeto sexual. A supervalorização sexual apresenta-se nas transgressões anatômicas a reivindicação enquanto parte genital, ou seja, as mucosas bucal e anal tentam comparar-se à genitália.

                        Fetichismo
            Quando o objeto sexual é substituído por outro que guarda certa relação com ele, mas que é impróprio para o alvo sexual normal, acontece o fetichismo. Em geral, o substituto do objeto sexual é uma parte do corpo ou um objeto inanimado. Para que o fetiche seja patológico é necessário que ele se fixe e se coloque no lugar permanente do objeto sexual normal. A escolha do fetiche é determinada, quase sempre, de uma impressão sexual recebida na primeira infância. Em outros casos, a substituição do objeto sexual normal pelo fetiche é algo simbólico e de pensamento, que não são conscientes.

            Alvos sexuais provisórios: fixações
            Tudo que venha a dificultar ou adiar o alvo sexual normal reforça a tendência em demorar nos atos preliminares e assim a formar novos alvos sexuais que podem substituir o normal.
O tatear e tocar a pele do objeto sexual faz parte do ritual de saciedade da pulsão sexual. Demorar-se no ato do tocar, desde que o ato sexual seja concluído, não figura entre as perversões.
O olhar que derivar do tocar desperta sensação libidinosa. A ocultação do corpo, culturalmente progressiva, desperta a curiosidade sexual que ambiciona completar o objeto sexual através de revelação das partes ocultadas. Isso não constitui um estado patológico. Contudo, quando o prazer em ver restringe-se exclusivamente à genitália, ou quando se liga à superação do asco, ou quando se substitui o alvo sexual normal em vez de ele próprio ser preparatório, pode-se inferir caso patológico.

Sadismo e masoquismo
Da existência do prazer na humilhação ou sujeição teremos o sadismo, a forma ativa, e masoquismo, forma passiva.
Biologicamente, o homem não corteja seu objeto sexual. Ele, ao contrário, tenta vencer seu objeto sexual pela agressão e tendência a subjulgar. De tal modo, a etiologia do sadismo reside na agressão exagerada da pulsão sexual canalizada para o lugar preponderante, ou seja, seu objeto sexual. De todas as formas o homem é sádico e o que o definirá como perverso será a sua exclusividade em atos sádicos.
O masoquismo é a forma passiva do prazer em ser subjulgado, humilhado. Não deixa de ser sadismo, pois é a continuação do mesmo que se volta contra a própria pessoa.
A dor contém em si a possibilidade do prazer. Isso torna o sadismo e masoquismo um jogo, o qual permite que a pessoa seja ao mesmo tempo sádica e masoquista.

Perversões: considerações, variação e doença
Amplamente fora discutido sobre a condição sine qua non da perversão como doença degeneração ou doença. Esta hipótese pode ser descartada. Há um número elevado de pessoas com alvos sexuais normais que em um momento ou outro apresentam alvos sexuais pervertidos e substituídos. As transgressões anatômicas mostram que em circunstâncias favoráveis sempre serão adotadas como alvo sexual.
Há de convir que algumas perversões não deixam de ser patológicas (lamber excrementos, abusar de cadáveres e outras), e mesmo assim as pessoas podem e devem ser consideradas normais. Sua vida sexual que deverá ser considerada anormal, já que a anormalidade se manifesta somente neste campo. O que é considerado patológico é o caráter exclusivo e fixador da perversão.
Sobre as perversões fica claro que a pulsão sexual terá de travar luta com as resistências (asco, vergonha e dor). Tais resistências anímicas colocam o alvo sexual dentro do limite da normalidade.

A pulsão sexual nos neuróticos
A energia da pulsão sexual é a força primária e motriz das neuroses. Sintomas são atividades sexuais dos doentes. Eles constituem uma substituição de desejos e aspirações investidos de afeto. Por meio do recalcamento, a pulsão sexual é negada a chegar à sua plenitude. Esse processo inconsciente aspira a uma expressão apropriada de seu valor afetivo, ou seja, acontece uma conversão em fenômenos somáticos.
Os sintomas extraem força da pulsão sexual para somatizar. O caráter neurótico intensifica a resistência à pulsão sexual utilizando-se da vergonha, do asco e moralidade. Entre a urgência da pulsão sexual e a resistência ao que for sexual encontra-se a doença.
A psicanálise demonstra que por meio da sexualidade coexistem os sintomas psiconeuróticos. Deste modo, é por causa da negação da perversão que se instaura os sintomas. Caso as pulsões se expressem diretamente com propósitos de fantasias e em ações, não haveria as neuroses.
Sendo a neurose o negativo da perversão, pode-se constatar o quadro patológico nos neuróticos a partir de fatos como a existência de moções de inversão negadas em todos os neuróticos; as transgressões anatômicas reivindicam inconscientemente as mucosas da boca e ânus como genitália e assim eles geram sintomas; e novos alvos sexuais, como a pulsão do prazer em ver e do exibicionismo e a pulsão do sadismo e masoquismo, interferindo na conduta social do doente, fazendo a transformação de moções afetuosas em hostis, amor em ódio e assim por diante. 




Diêgo Santana

Nenhum comentário:

Postar um comentário