quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre o início do tratamento (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I – 1913)


Freud coloca a Psicanálise como um processo de ressignificação aberto, onde cada caso é único, podendo o universal considerar o particular, e nunca o particular poderá ser o universal.  Quando ele nos ensina sobre as técnicas do tratamento psicanalítico, ele não fecha incondicionalmente a aceitação de suas técnicas, ao contrário, ele abre espaço para que possamos refletir e investigar o particular. Deste modo ele abre seu artigo sobre o início do tratamento estabelecendo esta meta: o início é certo, o que acontece entre o início e o final é que é completamente múltiplo. Contudo, Freud mostra que as suas técnicas são regras gerais que devem ser consultadas e revisitadas. Abaixo segue algumas de suas técnicas:
·         Da aceitação do analisando:
Quando não se ‘conhece’ bem o analisando aceitá-lo por um período provisório de até duas semanas, já que isso poderá evitar ao analisando o constrangimento e decepção de uma cura que falhou. Freud recomenda que ouçamos bastante o analisando neste período provisório para observar a analisabilidade do analisando, e que não devemos, enquanto psicanalista, falar e explicar-lhes “nada mais do que o absolutamente necessário”. Essa questão da analisabilidade trata-se, portanto, de ética, técnica e competência, já que o psicanalista pode colocar em descrédito a ciência psicanalítica quando acolhe e acompanha um analisando não analisável. Freud mostra a dificuldade quando o analista tem algum tipo de laço – social, familiar, amizade – com o analisando.
·         Do comportamento do analisando:
Para Freud, a confiança ou não do analisando pelo tratamento psicanalítico é desprezível, uma vez que ela será menos forte que as resistências que serão encontradas durante o tratamento, pois a profundidade da mente é espantosa.
·         Do tempo e do dinheiro:
O Mestre de Viena aborda a questão do tempo do seguinte modo: uma hora específica de seu dia de trabalho é reservada para o analisando desfrutar, sendo este responsável por utilizar, mesmo que não faça uso dela. Essa rigidez deve ser acordada entre analista e analisando, pois se houvesse um afrouxamento do horário, o analisando iria indubitavelmente recorrer às faltas “ocasionais”. Os dias em que Freud utilizava eram todos os dias, com exceção dos domingos e feriados oficiais.  Quanto ao dinheiro que será cobrado, Freud ensina a auto-preservação e obtenção do poder e os fatores sexuais atribuídos ao dinheiro são pontos que devem ser considerados na técnica psicanalítica. Assim, o analista deve tratar naturalmente, desde o início, do dinheiro como se trata qualquer questão pertinente que ele irá tratar com o seu analisando. Caso o valor cobrado de honorário seja baixo, aos olhos do analisando, o tratamento não terá valor elevado. Parece, para Freud, que a gratuidade do tratamento – algo que deve ser evitado, senão banido da ética psicanalítica – não contribui para o bom desenvolvimento e ressignificação das neuroses, de tal modo que o dinheiro e o analista têm um simbolismo para o analisando. Quando o tratamento não é pago, as resistências do analisando podem e tendem a aumentar.
·         Do setting analítico e do divã:
Para atender o analisando, Freud diz que é necessário ‘acolhê-lo’ no divã onde possa deitar confortavelmente e o analista ficará atrás do divã, fora das vistas do analisando. Tal posição é remanescente das origens psicanalíticas, com o método de hipnose.
·         Do material do tratamento:
Freud ensina que o início do tratamento deve dar-se por meio do próprio analisando, podendo ele tomar como começo qualquer ponto que seja de sua importância. Ao analista cabe admoestar seu analisando para que ele fale sobre si mesmo e que as ideias paralelas, adjacentes ou mesmo contrárias ao que pronuncia seja verbalizadas também, pois a associação livre é o cerne da técnica psicanalítica.
·         Do momento de revelar certos significados ao analisando:
O analista, segundo Freud, não deve pronunciar o significado de certos conteúdos inconscientes para seu analisando antes do momento de a transferência ter-se concretizado. É necessário, acima de tudo, que aconteça um rapport para que o tratamento psicanalítico seja efetivado. O primeiro objetivo da técnica em psicanálise é ligar o analisando ao analista, formando assim, a aliança terapêutica, imprescindível para o bom andamento da investigação das neuroses e suas ressignificações. Freud recomenda que o analista seja interessado no analisando e que não permita um posicionamento moral ou advogue pelo sofrimento do seu analisando, antes, contudo, deve o analista portar-se compreensivamente para assim criar a transferência.

·         Do interesse do analisando na clínica psicanalítica:

O que impulsiona o analisando a buscar a clínica psicanalítica e seu tratamento é justamente o sofrimento e o desejo de ser curado. Esta força motivadora continua até o final do tratamento, contudo, ela vai perdendo sua energia. Utilizar a força motivadora do analisando é papel do analista. Freud coloca que para melhor usar esta força para auxiliar o analisando em sua ressignificação, o analista deve compreender que esta força não sabe que caminho seguir para a ‘cura’ e que ela não tem energia suficiente para opor-se às resistências. De tal modo que, por meio das técnicas da psicanálise, o analista conseguirá proporcionar ao seu analisando um fortalecimento do ego e ressignificação de suas neuroses.

Diêgo Santana

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